Dizer por música



Victor Hugo disse da música que ela expressa algo que não pode ser dito, mas sobre o qual não se pode ficar calado. Esta economia da música estende-se, creio, a muitas outras manifestações do espírito humano. Por outras palavras, há música em muitos dos nossos actos e actividades. Há música nas outras artes, há música na ciência, há mesmo música no dito, ou seja, podemos expressar algo que não pode ser dito naquilo que é efectivamente dito. Não há aqui jogos de palavras. Podemos escrever ou pintar com música. Talvez esteja aí a origem daquela expressão "isso é música para os meus ouvidos!" Há, com efeito, situações, factos, pessoas que são música, neste sentido que Victor Hugo lhe quis dar.
Há, desta forma também, é fácil percebe-lo, música nas palavras de Antonio Tabucchi.
A Antonella Barletta juntou-se finalmente a nós, completando assim a equipa que produz "Mulher de Porto Pim", a leitura encenada que viemos realizar à Ilha Graciosa baseada em obras do escritor italiano. 
O piano da Antonella ressoou ontem, pela primeira vez, no Clube Naval da Ilha Graciosa. É este piano que diz aquilo que não pode ser dito sobre estes textos. É este piano que expressa aquilo que o próprio Tabucchi, na perfeição da sua palavra e no rigor da sua forma, não disse, mas que nesta transposição que fizemos para o palco destas suas obras, também não pode ser calado. 
O resultado, no caso desta "Mulher de Porto Pim", é admirável, embora não tenha sido simples obtê-lo nem ele tenha sido, ao contrário do que porventura possa parecer, fruto de mera inspiração. 
Não deixa de ser verdade que o facto da Antonella Barletta ser, ela própria, música, ajudou...

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