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A mostrar mensagens de setembro, 2015

Dizer por música

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Victor Hugo disse da música que ela expressa algo que não pode ser dito, mas sobre o qual não se pode ficar calado. Esta economia da música estende-se, creio, a muitas outras manifestações do espírito humano. Por outras palavras, há música em muitos dos nossos actos e actividades. Há música nas outras artes, há música na ciência, há mesmo música  no dito, ou seja, podemos expressar algo que não pode ser dito  naquilo que é efectivamente dito. Não há aqui jogos de palavras. Podemos escrever ou  pintar  com música. Talvez esteja aí a origem daquela expressão "isso é música para os meus ouvidos!" Há, com efeito, situações, factos, pessoas que são música, neste sentido que Victor Hugo lhe quis dar. Há, desta forma  também , é fácil  percebe-lo,  música nas  palavras  de Antonio Tabucchi. A Antonella Barletta juntou-se finalmente a nós, completando assim a equipa que produz "Mulher de Porto Pim", a leitura encenada que viemos realizar à Ilha Graciosa baseada e

Sortilégios da Graciosa

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Em "Caça à baleia" – um dos contos de Tabucchi que compõem esta leitura encenada a que demos o título genérico de "Mulher de Porto Pim" – o vigia grita, a dada altura, "baleia à vista!" Este grito fazia parte da complexa "semiologia dos baleeiros". Ouvia-se no navio quando era chegado o momento de iniciar as operações da caçada. Em terra, a proximidade da baleia traduzia-se por um sinal sonoro diferente. O grito precisava de chegar mais longe. Um som cumpria essa função. O  som de um foguete, especialmente criado para este efeito, estralejava indicando a proximidade da baleia e simultaneamente a sua localização. Mais tarde uma "buzina", uma espécie de sirene accionada manualmente, dava o alerta. A localização e estado da baleia eram, neste caso, indicados por um sistema complementar de bandeiras. Depois surgiu a "fonia". A nova tecnologia aumentou o raio de alcance da "semiologia dos baleeiros", transforma

O afinador dos Açores

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"É preciso encontrar a afinação e mantê-la", explicava-me Márcio Vargas, o afinador de pianos açoreano. Diz-me isto enquanto afina o piano com o qual Antonella  Barletta — a pianista italiana que connosco percorre a rota desta "Mulher de Porto Pim" — executará duas pequenas valsas, em ternário Morricone com travo ilhéu, que marcam a distância entre duas das quatro histórias de Tabucchi que compõem esta leitura encenada. O que Vargas me procura dizer é que, depois de encontrada a tal afinação, ela terá de ser mantida, pese embora o quadro de funcionamento de um mecanismo complexo, delicado e sensível, feito de cordas, teclas, martelos, feltros e pedais, que é o piano, tocado pelos dedos de um pianista, em condições ambientais que podem ser muito variáveis. Afinar um piano não é, pois, encontrar simplesmente a frequência exacta. É assegurar que ela se mantém exacta nas circunstâncias particulares em que o piano vai ser tocado. Aí reside a arte do afinador. "