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“Novo” aeroporto, velhos problemas

A Câmara de Benavente, seguindo movimentos públicos que também já há tempo se tinham manifestado sobre este assunto, ameaça impugnar a localização do novo aeroporto de Alcochete, justificando a inciativa, sobretudo, com os graves problemas de ruído que a prevista localização vai causar na zona da minha freguesia de Santo Estevão. Não posso estar mais ao lado da iniciativa da CMB. O potencial do problema do ruído do novo aeroporto é real. Depois de décadas de experiência com outros aeroportos, depois de centenas de estudos que revelaram as trágicas consequências que o desprezo por esta matéria originou, ficamos sem saber se as opções que agora se perfilam no horizonte são fruto do golpismo, da falta de sensibilidade e cultura ambientais, ou,  simplesmente, da imbecilidade dos responsáveis. Em qualquer caso, serão sempre razões demasiadamente tristes para que não reajamos com grande veemência. O “novo” aeroporto de Lisboa é um mistério (mais um!) que seria interessante, nestes tem

“Os Alfarrabistas”

Poesia nas ondas da rádio... “ Os Alfarrabistas ” de Fernando Alves, com sonoplastia de Mésicles Helin. Na TSF. A série inclui vários programas que pode pesquisar no site da estação.

Terry Riley, uma pérola em Portugal

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O compositor americano Terry Riley é um nome que dispensa (ou deveria dispensar) apresentações. Em Portugal o trabalho deste influente  compositor, agora com 75 anos, passou quase totalmente à despecebido (a única excepção parece-me ter sido a sua visita a Lisboa em 1995 para um concerto memorável no S. Luís, felizmente registado em CD.)  Podemos, no entanto, dar graças pelo facto de que o desinteresse luso se afigura não ter beliscado o prestígio e a carreira magnífica deste compositor. E Terry Riley há-de certamente estar grato aos portugueses por não ter, assim, sido particularmente prejudicado pela indiferença nacional... No blog vizinho destes “Fragmentos” encontrarão algo sobre o concerto em si.  Aqui limitar-me-ei a dizer que foi pena assistir a este magnífico evento, numa sala cuja lotação oficial é de 899 lugares, na companhia de menos de 90 pessoas. Ainda por cima, destas menos de 90 pessoas, algumas ainda saíram a meio, certamente por forma a não perturbar com o seu

Cascais, qualidade de vida e artilharia

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Um dia destes, há pouco tempo, de passagem pela minha terra natal, ouvi aquilo que me pareceu um ataque de uma brigada de artilharia pesada. Não seria de admirar porque Cascais foi sede de um regimento de artilharia anti-aérea. Mas, algo me pareceu estranho uma vez que o dito regimento foi desactivado há bastantes anos e a artilharia não dispara assim...  Fui ver.  Aproximei-me da “peça” que bombardeava a outrora pacata vila com todo aquele fogo de barragem. O fragor prenunciava batalha sem quartel...  Era afinal um ensaio de som —um sound check como dizem os peritos nestas coisas...— que decorria no palco das Festas de Cascais. O meu pequeno, mas, ainda assim, bastante preciso sonómetro marcava num instante de maior alívio dos ouvidos —enquanto eu preparava o meu equipamento a banda tinha optado por ensaiar o seu momento unplugged ...— 99.2 dB, como a foto mostra.  O assunto não mereceria grande reportagem se o dito ensaio de som estivesse a decorrer numa daquelas câmaras

Mas vamos ter submarinos, caraças!

Um "contexto de contenção orçamental e de redução da despesa pública" foi a justificação arranjada pelo Ministério da Educação para congelar as verbas atribuídas ao ensino da música, no âmbito do chamado ensino artístico . Trata-se de uma manobra feia, feita, como alguém me apontou, assim, pela calada do verão, que apanha toda a gente de surpresa e em contraciclo daquilo que tinha sido a orientação do ME. Nesta onda de disparar em todas as direcções e atacar os mais vulneráveis, os ataques também chegam à pobre da música que fica assim mais pobre ainda... A medida é tomada numa altura que não permite às escolas honrar compromissos assumidos em tempo oportuno, prejudicando essas escolas, os seus professores e alunos. E suspeito que, no caso dos professores, os mais prejudicados serão justamente os jovens licenciados que buscam uma oportunidade de se "inserir no mercado de trabalho", justamente aqueles por quem os responsáveis vertem lágrimas cínicas a toda a hor

A rádio e os dias que correm

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Deixe-me ajudá-lo a “descodificar” a foto. Ia eu a caminho do supermercado, esta manhã, aqui na minha terra, e dou com esta cena: à porta de casa, aproveitando a sombra temporária, este senhor vai gozando, com a tranquilidade que a foto pretende documentar, a frescura da manhã. Tem um pequeno rádio pousado em cima da perna (ora repare; a foto foi feita a alguma distância para não perturbar muito a dita cena.)  Quem diz que a rádio morreu devia ter passado por aqui hoje. Para além de outras múltiplas funções, aqui está estoutra, quiçá inusitada, que a rádio cumpria de forma surpreendente, mas exemplar: banda sonora para um ensaio sobre a placidez. Praticamente não se ouvia (se calhar, nem ele...), mas, na altura, a canção que passava era “My favorite things”. Cantada pela Julie Andrews, mas podia estar a ser cantada por outro qualquer, incluindo o próprio senhor da foto.  Não haveria, por certo, outra canção que melhor pudesse ilustrar o sentimento que parecia transparecer

O pingo

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”Encontros com o Património” é um esplêndido programa da TSF. Aconselho-o a quem porventura o não conheça. Uma das suas edições é dedicada à obra do arquitecto Raul Lino . Dá-se uma volta pela sua Casa do Cipreste em Sintra, de onde a emissão é feita. Fala-se do arquitecto, do grande e infatigável desenhador. Fala-se do desenho e do seu valor como “instrumento para ver”. Mas é o ouvido que aqui percorre os recantos da Casa do Cipreste, é o ouvido que recria as suas formas, que “vê” as cores dos seus azulejos, é o ouvido que vai desenrolando a sua planta. O sino dá o sinal de entrada na Casa.  De súbito, um pingo! Da pequena fonte há “uma água que cai”. “Uma influência árabe” para quebrar o silêncio, diz o sobrinho de Lino, anfitrião da emissão e actual morador. Ou, se calhar, para minorar a solidão, diz o autor do programa.  Em qualquer caso, uma pequena fonte concebida pelo arquitecto para “ter um ruído na casa”.

O pecado

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”No dia em que comerdes este fruto, nesse dia, morrereis”. Dizia, em alusão ao mito do pecado original, o personagem da Morte numa das falas de  O Lavrador da Boémia de Johannes Von Saaz. O texto esteve na origem do espetáculo Letra M . Lembrei-me desta fala ontem durante o concerto magnífico que o duo Le Celesti Harmonie deu na Igreja dos Salesianos. O ambiente era favorável a estes pensamentos... De facto, o prazer de ouvir Paolo Pandolfo e Guido Balestracci afigura-se tão grande que é um sentimento de pecado que nos parece invadir. Um pecado duplo, o nosso, cometido ali à frente de todos (e numa igreja ainda por cima!), e o do duo, que também não esconde o prazer que tem em partilhar connosco estas celestes harmonias.  Harmonias forjadas por François Couperin, M. de Sainte-Colombe, Captain Tobias Hume e Christoph Schaffrath, entre outros,  oferecidas por Le Celesti Harmonie para deleite e prolongada satisfação dos nossos sentidos. Numa demonstração cabal de que é totalmente

Ser dobrado pelos sinos

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O tema do ruído não chega amiúde aos orgãos de comunicação. E quando chega é normalmente através de uma perspectiva desinteressante e mal informada. Os sinos das igrejas são um problema recorrente (1). Os sinos constituem aliás um tema que ultrapassa (2) a questão ambiental —e talvez por isso o transforme num problema recorrente— e envolve disputas de poder com contornos bem mais profundos. Enquanto o problema do ruído se resumir à questão dos “decibéis ” (quando é que raio as pessoas entendem que esta palavra não existe?! Vejam aqui e aqui ...) os prevaricadores estarão sempre defendidos. É o caso relatado neste artigo do Público que foi retomado numa interessante crónica chamada “Música Electrónica” do Miguel Esteves Cardoso no mesmo jornal. Enquanto o cónego Aparício “aguarda uma peritagem” e o presidente da Câmara de Beja “dá conhecimento à Igreja do mal-estar” que os sinos provocam, as vítimas vão dobrando com os nervos esfrangalhados.  (1) Aqui há tempos escrevi

A música como ruído

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Cheguei há pouco tempo de Koli (Finlândia) onde fui assisitr à conferência anual do World Forum of Acoustic Ecology. Escrevi algo sobre isso aqui .  O tema da conferência foi “Ideologies and Ethics in the Uses and Abuses of Sound”.  Nem de propósito, Miguel Esteves Cardoso escreve hoje no Público sobre a instalação de sistemas sonoros nas praias, difundindo música (se calhar, sem sequer pagar os respectivos direitos) em altos berros, em locais cuja paisagem sonora costumava ser feita do “som das ondas ou o alarido das crianças”.  Insurge-se com razão. É um tiro na música e o direito ao sossego ao fundo. Miguel Esteves Cardoso sugere ainda algo que deveria, de facto, ser norma: a atribuição da Bandeira Azul passaria  também a contemplar a poluição sonora. Usar sistemas deste tipo em praias que são usofruto de todos é uma atitude abusiva, sem ética, à qual está subjacente uma ideologia totalitária que entende que tudo se pode manipular, atropelar ou controlar, até o nosso dire

“O silêncio dos dias”

Uma reportagem de Maria Augusta Casaca e João Félix Pereira publicada na TSF debruça-se sobre o mundo sem som dos deficientes auditivos. A rádio a falar da sua matéria plástica básica: o som. Um projecto da Escola de Santo António de Faro tenta ajudar a ultrapassar a deficência. Comovente. Pode ser ouvido (e deve ser ouvido!) aqui .

O exemplo de Alcoutim

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O presidente da Câmara Municipal de Alcoutim é médico e isso pode, em parte, explicar a razão que levou aquela câmara a decidir criar um inovador Programa de Erradicação da Surdez. A audição é um elemento chave no nosso relacionamento com o mundo que nos rodeia. Muita da nossa “humanidade” virá do facto de termos desenvolvido estratégias  surpreendentemente complexas de sobrevivência, ao longo do nosso processo evolutivo como espécie, assentes no mecanismo da audição. A fala e a música, são traços definidores do nosso processo filogenético, que assentam na evolução do nosso mecanismo auditivo. Há qualquer coisa de bárbaro em condenarmos hoje pela incúria das instituições sociais, ou deixarmo-nos condenar a nós próprios a um processo, muitas vezes, precoce de ensurdecimento, ou deixarmo-nos vencer por uma noção totalmente descabida de que é “natural” ficar surdo. Para mim que sou músico este problema é especialmente agudo.  Uma perda temporária de audição, por exemplo, pode se

Há som no ar

Mão amiga chamou-me a atenção para um site da Antena 2 chamado Somdescape (uma corruptela da palavra soundscape , como explica o seu autor.) Um título que chama a atenção para a paisagem sonora que, se estivermos atentos, traduz fielmente os valores que estão subjacentes aos organismos que a produzem e a ouvem.  O título revela as ambiguidades da audição. Diz-nos que podemos estar a falar de sons dos escapes , o que é mau; ou do som como forma de escapar à ditadura da paisagem sonora pré-formatada que hoje nos é servida por todo o lado, o que é bom. O programa foi (está a ir?) para o ar e eu, mea culpa , nem dei por isso. De qualquer forma, é de saudar que neste país de surdos ainda haja quem teime em ouvir, e quem, ainda por cima, dê à crónica os produtos da sua audição. E quem acolha isso...  A Antena 2, embora se calhar, não se dê disso conta, também faz parte da paisagem sonora e tem enormes responsabilidades nessa matéria. Se tivesse, ela própria, ouvido antes o que se

Os 25 anos da Miso Music

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A Miso Music comemora este ano o seu 25º aniversário. No âmbito desta comemoração (cf. o programa da comemoração aqui ) houve hoje um concerto no Instituto Franco-Português a que o Miguel e a Paula Azguime deram o nome de “Cadavre Exquis” Electroacústico. O Miguel teve a bondade de me convidar para conceber uma peça para este Cadavre Exquis musical, à maneira surrealista, que foi estreado com sucesso. Foi para mim um enorme prazer, confesso-o, colaborar nesta iniciativa.  A minha foi uma das 50 peças apresentadas, fruto do trabalho de outros tantos compositores, distinguidos desta forma pela sua colaboração com a Miso ao longo destes 25 anos. Ouvindo todos estes trabalhos, observando o rigor e o esforço colocados na produção deste evento, a sua qualidade, a dedicação e o altíssimo grau de profissionalismo de toda a equipa de produção da Miso Music, o espírito empreendedor e o quente acolhimento dispensado a todos, autores e público, olhando para o palmarés invejável desta inst

Leviandades

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Ainda há pouco tempo fiz aqui um elogio a um escrito de Miguel Esteves Cardoso, que me pareceu totalmente justo. Trata-se de um jornalista que gosta de arriscar (reconheço-lhe essa virtude), mas que é embrulhado, ele também, tantas  vezes, nesta vertigem de ter de preencher diariamente o seu pequeno canto de página. Ontem espalhou-se.  E por se tratar de uma injustiça cometida sobre uma figura que conheço bem e que é tratada de forma totalmente lamentável, não posso deixar de escrever aqui esta nota. O pretexto da crónica de ontem do Público foi o gosto musical dos candidatos à presidência do PSD. Lá foi de metáfora musical, em metáfora musical até chegar a Gary Burton, dizendo dele que se trata de um talento “mediano que poderia ter sido maior se arriscasse mais.” Saltou-me a tampa quando li isto! O Gary Burton não merece a colagem ao Aguiar Branco, simplesmente para levar uma duvidosa lógica musical até ao fim,  Gary Burton é um músico que acompanho há uns quarenta anos.

Há vida para além do PEC

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A música não vai salvar o mundo, mas pode ajudar. O projecto da Orquestra Geração é uma iniciativa da Fundação Gulbenkian e da Câmara da Amadora, apoiado na Escola de Música do Conservatório Nacional e na Fundação EDP. Já conta, creio, dois anos. A inspiração vem do conhecido Sistema Nacional de Orquestras Juvenis e Infantis venezuelano, fundado por José António Abreu. É justo dizer que no domínio da aplicação dos princípios da inclusão social e da aprendizagem do trabalho cooperativo através da música, as bandas filarmónicas, em particular -- de uma forma, por vezes, voluntarista e sempre totalmente desapoiada-- e as escolas Menuhin, vêm de há muito dando um contributo decisivo nesta matéria. Mas, estas Orquestras Geração constituem um caso de sucesso, hoje e aqui, que contém lições que ultrapassam em muito o domínio das artes. Se o País quisesse mesmo perceber o que tem de fazer para conseguir ir além do sacrossanto PEC -- que lá ficou naturalmente aquém do que se esperava e do

Lisboa, ruído a mais, ruído...

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Um artigo recente do Público “Ruído na Baixa pode travar repovoamento” dava conta do atraso na aprovação do plano de pormenor da baixa pombalina pela administração central “por causa das questões relacionadas com o ruído.” O atraso fica a dever-se ao facto de a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo ter emitido um primeiro parecer sobre o plano da autarquia onde a questão do ruído é objecto de reparos. No quadro actual, a construção de novas habitações e escolas está posta em causa estando pois, assim também, em causa o desejado repovoamento do centro da cidade. As várias medidas de condicionamento do trânsito (apontado como a fonte principal de ruído da cidade) não parecem suficientes e há zonas da Baixa onde “foram detectados níveis de ruído susceptíveis de causar danos na saúde e fortes perturbações do sono.” Que Lisboa é uma cidade barulhenta é um facto inequívoco, susceptível de ser comprovado por qualquer um. Mas, que  “repovoamento”