Heaven, I’m in Heaven


Cumpriu-se o desígnio: o New Quartet de Gary Burton veio mesmo ao Estoril e, mais uma vez, eu que não sou crítico, venho aqui deixar algumas simples notas de trabalho de campo...
Acompanho a actividade musical de Gary Burton há mais de 40 anos. Tudo começou pelo fascínio inicial que me provocou a sua técnica e continua hoje com o fascínio absoluto que a sua música teima em me provocar.
Cada disco e cada concerto de Burton constituem uma lição de musicalidade, técnica e de domínio da arte de ser um músico de jazz profissional.
Este New Quartet é a montra mais recente de todas estas qualidades. Foi um privilégio podermos assistir a esta passagem pelo Estoril, no âmbito de uma longa tournée que o quarteto está a realizar e o Estoril Jazz está de parabéns por ter agarrado a oportunidade.
A música deste quarteto não é especialmente inovadora. A inovação em Burton começou na técnica que desenvolveu —ainda muito jovem— para o seu instrumento, no formato dos seus grupos e no conceito de fusão (jazz/rock) que ele introduziu, muito antes de Miles, aliás. Hoje esta inovação original faz parte da derme musical de Gary Burton. Foi pena o reportório não ter incluido nenhuma composição de Vadim Neselovskyi, um dos seus outros pupilos, porque, aí sim, estaríamos a reentrar no domínio da inovação musical.
Mas, não é de inovação musical ou de técnica que aqui estamos a falar. Falamos de música erudita e falamos do virtuosismo —que já está em patamares galácticos— que estes músicos atingiram na exploração de uma fórmula que marca a música de jazz (improvisação sobre uma estrutura harmónica), única na história da Música. Já tinha abordado este tema aqui, curiosamente também a propósito de um concerto de Gary Burton. É de música erudita, pois, que estou a falar.
Burton nunca esteve só nesta sua jornada. O New Quartet conta, com a colaboração de, para além dos dois sólidos pilares, Scott Colley e António Sanchez, um músico que não posso, sobretudo, deixar de destacar, Julian Lage. O jovem guitarrista (de origem tripeira!) constitui, para mim, a maior novidade dos últimos tempos neste instrumento. Em boa hora Burton decidiu dar palco a este pequeno prodígio, que veste a sua guitarra e a usa para exibir uma verve, uma elegância, uma organicidade, um humor e uma energia únicos. 
A noite de ontem foi especial. A companhia foi (*) encantadora, a música ferveu. 
Foi pena o New Quartet não ter tocado Neselovskyi, mas foi sobretudo pena não ter tocado o “Cheek to Cheek”. Certamente que lhe teria dado um tratamento que nos obrigaria, como sempre, a ficarmos presos ao lugar e os primeiros versos serviriam de hino a uma noite perfeita.

(*) É e será sempre...



NB- A foto é de Brian Evans e foi “picada” da página de Gary Burton no Facebook. É bem melhor do que a foto que consegui tirar do concerto e incluí na versão original deste post.

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